Mostrar mensagens com a etiqueta 2016 LA TOURETTE. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta 2016 LA TOURETTE. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, abril 28, 2016

O bosque de La Tourette


Último desenho de La Tourette. Mais um em folha solta. Mais um para oferecer...
Todos os anos fazemos o amigo secreto. Oferecemos e recebemos um desenho de alguém do grupo. Este ano, desafiámos o 12.º ano a preparar a dinâmica do amigo secreto. Entregaram-nos umas folhas que, na parte de trás, tinham duas cores, sendo essas as únicas que podíamos depois usar para fazer o desenho. A mim calhou-me o preto e o amarelo.

Guardo sempre com muito cuidado estes desenhos que recebo. Tenho a impressão que alguns destes meus alunos vão ser alguém importante um dia...

Quando estava no meio do bosque de La Tourette, à procura do meu habitáculo, dei-me conta que seria ali o local perfeito para fazer um desenho inesperado para oferecer. 
Calhou-me como amiga a Rita Barata, uma aluna que escolheu Humanidades no 10.º ano, mas que mudou para Artes no início do 2º período. E ainda bem que mudou. Movimenta-se em Artes como peixe na água. Comunica o seu trabalho como ninguém. Apaixona-se por tudo o que lhe é pedido. Procura sempre fazer mais e ir muito mais longe do que os desafios que lhe são colocados.
São alunos como ela que me obrigam a ser melhor professor. Obrigam porque senão não estou à altura...

Fiz-lhe este desenho de propósito. Escrevi na parte de trás que é um desenho inesperado porque a Arte é assim mesmo: misteriosa. 
Queria que ela tivesse um desenho meu que fosse raro, pouco evidente, fora do habitual. Porque é isso que ela é: rara!

quarta-feira, abril 27, 2016

Esbarrar com a realidade


Este é o meu penúltimo desenho feito em la Tourette.
Não foi o penúltimo desenho feito lá, mas é o segundo a contar do fim a ser aqui publicado.

O tema do exercício era o 3º dia e baseava-se em dois textos. Um do P. Vasco Pinto de Magalhães, sj e outro do profeta Jonas que já tinha utilizado no retiro de diários gráficos na Sicília.

Não me querendo alongar muito sobre as relações entre textos, até porque poderiam ficar fora de contexto, transcrevo apenas algumas partes do P. Vasco:


Diante de um acontecimento qualquer, e particularmente de um acontecimento doloroso, há um primeiro tempo de confusão, de conflito, de choque, de esbarrar com a realidade, é o “primeiro dia”.

Há depois um “segundo dia”, um segundo tempo de interiorização, de reflexão, de “metabolização” desse acontecimento.

Virá, então, um terceiro tempo e momento, o “terceiro dia”, quando começamos a ver as coisas com outros olhos.

Creio que foi o que me aconteceu em La Tourette. O terceiro dia metafórico foi no meu segundo dia com as Laudes da manhã. Comecei a ver tudo com outros olhos...

terça-feira, abril 26, 2016

Un cadeau de La Tourette


Depois dos quatro desenhos em três folhas soltas, fiz mais dois para oferecer.
Este, visto de uma das zonas comuns do interior do convento - o átrio que dava acesso à capela, ao refeitório, à igreja e a um corredor interior para o lado nascente do edifício - tinha um envidraçado excelente para se compreender o interior do claustro e o piso térreo de acesso livre.  Aquela pirâmide é a capela dos noviços.

Ofereci este desenho à Catarina Santos, aluna do 12.º ano de Artes que é minha aluna desde o 5.º ano. Há 3 anos escrevi este post porque nenhum aluno meu ia para Artes, mas ela, depois de uma semana em Ciências, mudou-se para o que verdadeiramente está cá para fazer: Artes! 
Foi um prazer enorme oferecer-lhe este desenho quando fez 18 anos. :)

segunda-feira, abril 25, 2016

La Tourette em folhas soltas


Ter tido a oportunidade de conhecer pessoalmente o Kiah Kiean fez-me sair do caderno. Quem me conhece sabe que o desenho em cadernos é, para mim, quase como o ar que respiro, mas não há que ser obstinado com o assunto. Desenho é desenho e, se por um lado sabemos que no caderno as páginas são para guardar entre capas duras na prateleira lá de casa, também é verdade que as folhas soltas permitem ganhar escala e colocar os desenhos nas paredes lá de casa!

Com uma logística complicada (para mim, o lado mesmo mau de não usar o caderno), havia um desafio para fazer à lá KK: mostrar as características do edifício do Le Corbusier com vários desenhos numa mesma composição.

À noite, na secretária da minha cela, comecei a escrever sobre o que não conseguia entender na estrutura, mais especificamente, o claustro. Engraçado como essa escrita me levou o pensamento para conclusões que me pacificaram. Realmente há coisas que não podem ser desenhadas. Os pensamentos são uma delas. Só se for em forma de letras...

sábado, abril 23, 2016

Terraços de La Tourette


Fruto da boa impressão que o nosso grupo deixou junto dos monges dominicanos, o Ir. Marc ofereceu-nos uma subida aos terraços do convento. Agradecemos, claro está, mas não tínhamos a noção do privilégio que nos estava a ser oferecido até a senhora da recepção nos ter dito que os monges só oferecem a ida aos terraços a quem eles querem e que é tão raro que acontece, no máximo, 5 vezes por ano!


A subida lá acima permitiu dar-nos conta de que o verdadeiro claustro dos monges é o terraço. É ali o espaço deles de meditação e comunicação. O claustro interior, esse, é uma obra de mestre do Le Corbusier: sendo este o único convento dominicano que está no meio da Natureza em vez da cidade, o claustro interior pretende mostrar o caos da cidade, avenidas, diferentes planos, para que os monges não se alheiem completamente do mundo que os rodeia. O claustro tradicional dos conventos inseridos na malha urbana procura ter a harmonia da Natureza através de elementos ajardinados e da presença da água.


A relação do convento com o espaço natural que o envolve é de grande proximidade a Nascente, intermédia a Sul e longínqua a Poente. As coberturas ajardinadas diminuem de forma gritante o impacto do edifício na paisagem. Visto daqui, tudo se dilui...


A visita ao terraço não deu tempo para mais do que dois desenhos rápidos: um é do mesmo ponto de vista da fotografia de cima, o outro é mesmo junto à chaminé do convento. O terceiro é já no caminho dos cavaleiros, a andar de costas em direção ao autocarro e a ver o convento cada vez mais pequeno...

No dia anterior à noite desenhei a porta de entrada na capela, num esboço mínimo, enquanto o Fr. Jean François nos mostrava a capela à noite e falava da cruz que se forma quando a porta se abre e cruz a janela horizontal ao fundo...


sexta-feira, abril 22, 2016

Cela de La Tourette


O dimensionamento de todo o espaço arquitectónico, para o Le Corbusier, é baseado no modulor, o que faz com que o pé direito das celas seja de apenas 2,26 mt. 
Num primeiro momento há, de facto, uma sensação de compressão, diria mesmo claustrofobia. Contudo, ao segundo dia, é impressionante o sentimento acolhedor que se tem na cela, sobretudo quando utilizamos os outros espaços comuns como o refeitório, capela, biblioteca, sala de visitas, etc.

A Sara Amado (uma colega minha professora nas Doroteias), lançou então um exercício de desenho dentro da cela. Fiz três desenhos na mesma dupla página, mas já não tive tempo de desenhar a secretária e a pequena varanda. Espero que fique para uma próxima! :)

quinta-feira, abril 21, 2016

La Tourette - land art


Um dos exercícios propostos aos nossos alunos baseava-se na Land Art e de como podemos e devemos habitar o nosso território.
Com um terreno próximo dos 60 hectares, cada um deveria descobrir o seu habitáculo e fazer ali uma intervenção artística que não danificasse a natureza. A isto seguiu-se um percurso de visitas aos habitáculos e respectiva explicação:
- A Anabela espetou ramos no chão, simbolizando as rotinas diárias e as quebras dessas rotinas.
- A Ana S. juntou ramos caídos num tapete metafórico à entrada de uma escadaria, como que a convidar-nos a entrar.
- O Francisco colocou ramos no caminho guiando-nos até à gruta, de onde se avistava o convento.
- A Eva foi para fora dos muros do convento e queria reconstruir as partes caídas com ramos caídos.
- A Rita A. encontrou uma bifurcação e colocou ramos no chão a simbolizar as escolhas que fazemos.
- O Vasco encontrou a base de uma árvore cortada, coberta de musgo, e alinhou vários ramos centralizados com a base do tronco.
- A Sofia colocou paus e pedras a proteger uma flor que estava a despontar.
- O Manuel Tiago juntou musgo num abrigo e colocou uns ramos encostados como assinatura.
- O João L. alinhou ramos por cima do musgo como respeito pelo espaço.
- A Matilde encontrou um código gravado numa pedra e reproduziu-o em grande através de ramos caídos.
- O Rafael pegou em ramos caídos e deu-lhes uma segunda vida, centralizados e alinhados ao alto.
- A Carolina M. bloqueou o caminho para nos obrigar a parar e observar o que nos rodeia.
- A Rita B. transportou ramos e troncos e fez a sua cama com uma vista paradisíaca para o prado verde em frente a um muro caído.
- Eu: pedi que todos gravassem nos seus smartphones o som do percurso que estavam a fazer até chegarmos ao meu local e, chegando lá, que colocassem "play" para termos as feridas sonoras do nosso impacto na paisagem. Fiz um vídeo com o som coletivo que fica guardado para a história...

terça-feira, abril 19, 2016

La Tourette - a cripta


Ao terceiro dia, pedimos ao Fr. Jean François que nos falasse da Ordem Dominicana. É que ir ali e não compreender quem lá vive, a sua história e o que fazem agora, parecia-nos uma falha imperdoável...

Impressionante a simplicidade com que se regem. Não fazia ideia que era tão simples...
Também muito impressionante foi perceber que todos estes monges têm como especialidade a comunicação. São professores universitários, um deles de arte contemporânea, com conhecimento sem fim à vista...

Depois fomos à cripta. Projectada antes do Concílio Vaticano II, servia para a missa diária pessoal de cada sacerdote. Dizia-nos o Fr. Jean François que, na altura, aquilo parecia uma fábrica de missas! :)
Com as mudanças, cada sacerdote passou a poder co-celebrar a missa diária, pelo que esta zona do convento deixou de ser utilizada.


Como era suposto ser uma zona privada, o Corbusier projectou-a dentro da capela grande, mas numa área escondida. Contava-nos o Fr. Marc (o que é professor de arte contemporânea) que o Corbusier escolheu as cores por instinto. Foi lá um dia tentar escolher, mas disse que estava muito cansado para decidir. Dormiu e, no dia seguinte, escolheu-as por puro instinto. Se fosse noutro dia, os tons seriam, provavelmente, outros.


Cada um destes altares em betão tem uma pedra com 5 cruzes gravadas que representam as chagas de Cristo. Numa pequena parte está guardada uma relíquia de um santo. É o que todos os altares devem ter: pedra e relíquia.

Depois de 4 desenhos rápidos da cripta, olhei para as cruzes em baixo relevo e apeteceu-me mesmo fazer estes decalques. Não tinha lápis, mas uma aluna emprestou-me um 3B que serviu lindamente!

segunda-feira, abril 18, 2016

La Tourette - dia 2




No segundo dia levantei-me cedo: 7h00.
Noite tranquila porque os alunos rapazes dormiram sem barulho ou confusões. Pedimos-lhes que nos dessem os telemóveis para não ficarem ligados ao resto do mundo durante a noite e só um é que não acedeu. A proposta era difícil, mas valiosa: quantas vezes é que podemos viver a 100% esta experiência?

Nessa manhã fui às laudes.
É difícil descrever os sentimentos de estar numa capela sobreelevada na paisagem, com uma parede envidraçada do chão ao tecto e uma vista deslumbrante.
Entretanto, aos poucos, vão chegando os monges dominicanos. Às 8h00 começam as laudes todas cantadas...

É inspiradora esta forma de começar o dia, agradecendo tudo o que nos rodeia, toda a vida que temos e que não pedimos, apenas nos foi dada gratuitamente para podermos fazer dela maravilhas.

sábado, abril 16, 2016

La Tourette, by Corbusier


Tudo começa com a vontade de dar aos alunos de Artes Visuais das Doroteias a experiência artística mais completa possível.
Desde há muitos anos que saímos todos juntos para desenhar e cultivar o espírito artístico durante 4 dias numa qualquer cidade longe de Lisboa. Este ano foi em La Tourette, com "escala" em Lyon.


Aterrado o avião, esperava-nos um percurso de 35 minutos de autocarro por estrada boa.
A experiência da chegada ao convento é única. Vivem lá os irmãos dominicanos em regime de simplicidade. Fomos recebidos pelo Fr. Jean François que nos explicou as regras dentro do convento.
Feita a acomodação, reunimos numa sala para fazermos o exercício de apresentação preparado pela turma do 12.º ano. Fiquei com a Madalena...


A Ana Souza, arquitecta e estagiária nas Doroteias, guiou-nos pelo edifício chamando a atenção para várias particularidades. Eu desenhava o mais que podia, tirava apontamentos, queria "agarrar" aquele edifício o melhor que conseguisse.


Este primeiro dia não terminou sem uma ida à capela, local majestoso com uma escala gigante. 
Depois, antes de dormir, pegámos na leitura do cego que queria ver e desenhámos de acordo com a descrição de um colega. Olhávamos para o papel, mas era como se estivéssemos cegos, tal era a informação relatada que nos faltava.

Foi este o meu primeiro dia em La Tourette: cheio, intenso, talvez um pouco caótico até.