domingo, novembro 24, 2013

O que nos dizem os outros...

São tantas as pessoas que se cruzam na nossa vida que é quase impossível o exercício de memória de nos lembrarmos o que nos costumam dizer.

Na Culturgest, frente a frente está esta tela do Bruno Pacheco e estas fotografias da Helena Almeida. Que relação mais forte e densa esta... o nosso ouvido anda desfocado. Ouvimos, mas não ouvimos. Estamos cada vez mais com memória curta... até para as pessoas que mais gostamos...

quarta-feira, novembro 20, 2013

Sentido em deriva

 Susanne Themlitz

 Armanda Duarte

João Queiroz

Nunca imaginei ficar tão agradecido, nesta altura da minha vida, por poder juntar na minha actividade profissional algumas das coisas que mais gosto: ver arte, desenhar e ajudar os outros a entender a arte, a pensar artisticamente e, claro está, a desenhar.

Tenho vivido dias muito preenchidos e realizados.
Estes desenhos foram feitos durante o workshop que orientei na Culturgest sobre a exposição "Sentido em Deriva" que, diga-se de passagem, é absolutamente fabulosa! 
Com o título de "Obras de arte? Levo-as comigo no diário gráfico", este workshop mostrou-me como as obras entram mesmo na vida das pessoas...
Haveria tanto para dizer sobre estas páginas e as outras que não digitalizei, mas é mesmo assim. Há coisas que ficam só connosco...

sábado, novembro 02, 2013

Retiro de diários gráficos: 2014


Pois é, parece que Itália chama por estes retiros e o próximo vai voltar a ser lá!

Ficaremos hospedados em Vittorio Veneto, na casa dos missionários da Consolata, a meio caminho das montanhas e da incrível cidade de Veneza. 

Desejava muito fazer este retiro ali e eis a oportunidade! 
O tema central é o de sempre: O espiritual no desenho.
A viagem será por Milão, para manter um valor simpático. O preço só não inclui um almoço, que será livre pela Veneza que descobrirem...

As vagas são limitadas, tal como nos anteriores retiros.

Lugares disponíveis: esgotado

Esclarecimentos e inscrições para o meu email: linhares.mr@gmail.com

domingo, outubro 27, 2013

A barriga da baleia


Com a data de anúncio do retiro de diários gráficos de 2014 a aproximar-se, justifica-se trazer para aqui os vídeos que a Patrícia Pedrosa fez em 2013.

Este tema surgiu-me inicialmente numa conversa com o Nuno Branco. O profeta Jonas foi engolido para a barriga de um grande peixe e ficou lá 3 dias e 3 noites... 
Como é que podemos chegar ao desenho a partir daí?

sábado, outubro 26, 2013

Beco de S. Luís da Pena


Às vezes é preciso um grupo para nos obrigar a quebrar as rotinas. E que bom que é ter um grupo de amigos que desenham em cadernos. Além das conversas sempre tão entusiasmantes, o que mais gosto é do silêncio do momento do desenho. Cada um no seu cantinho, mas todos juntos...

Orelhas


No outro dia estava a pensar em como é difícil ter tempo para escutar as pessoas. Andamos todos numa correria e fazemos tudo à pressa. Ouvir é apenas uma dessas coisas...

Engraçado como esta aula de desenho focada nas orelhas dos colegas já não é apenas uma aula. A partir daqui apetece-me resvalar para devaneios sem fim em torno da escuta, do som, do silêncio.

A vida é interessante demais para a nossa compreensão tão acelerada... 

domingo, setembro 08, 2013

Costa do Marfim




Ir a África apenas para desenhar é como um sonho tornado realidade. 
Foi preciso apanhar dois aviões, seis horas de voo, quatro de espera, mais dez horas de viagem em jipe por estradas meio alcatroadas e de terra batida com buracos gigantes...
Mas valeu a pena. Vale sempre!
Queria muito partilhar os desenhos, mas até serem selecionados os que vão entrar no livro (sim, vai sair um livro com os nossos desenhos na Costa do Marfim!), só posso publicar fotografias.

Depois destas viagens regresso sempre com um sentimento de pequenez. O mundo é tão grande e variado. Há tantas pessoas fantásticas a viverem com tão menos que nós que venho sempre pequenino e reduzido à minha insignificância. Espero que os desenhos façam justiça ao que eu e a Ketta vimos, vivemos e sentimos...

workshop - São Roque


Acabadinho de chegar a Portugal depois de um mês a desenhar na Costa do Marfim, eis o regresso à minha querida Lisboa. 
Para os que quiserem, no dia 28 de setembro, vou repetir o workshop na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, no museu e igreja de S. Roque, com visita guiada, vários exercícios de desenho e a espectacular vista dos torreões.

Inscrevam-se para o meu mail: linhares.mr@gmail.com

sábado, agosto 10, 2013

Viagem


É hoje que uma nova viagem vai acontecer na minha vida.Vou um pouco às cegas, sem saber o que vou encontrar nem o que desenhar. Costa do Marfim é o destino e só sei que quero desenhar pessoas...
África tem um encanto inexplicável. É entusiasmante saber que daqui a algumas horas estarei a pisar um continente diferente, com milhares de anos de história...

Com tanto tempo, quatro semanas, há a oportunidade nos deixarmos levar pela noção de tempo africana. Nós temos o relógio, os africanos têm o tempo. Não há pressa. Marcam-se dias e não horas. O dia começa cedo e acaba cedo. Toda a rotina diária é diferente...

Levo comigo três cadernos. Acho que estou a ser generoso comigo próprio, não sei se os vou encher aos três, mas quando se parte para o desconhecido, habilitamo-nos a descobrir coisas novas em nós. É aí, penso eu, que a frase que está no desenho entra em prática: "e, então, também eu te louvarei" - disse Deus a Job, quando finalmente ele O conseguiu ouvir...

domingo, agosto 04, 2013

sábado, agosto 03, 2013

Férias

Nunca fui grande fã de parques aquáticos, mas o imaginário que eles me criam é de Verão completo. Apesar disso, se tiver de escolher, não vou a um parque aquático...

As férias criam-me sensações diferentes. É uma oportunidade para descansar, mas todo aquele tempo a passar interminavelmente soa-me sempre a desperdício...
Desde que desenho quotidianamente que as férias são uma oportunidade de fazer aquilo que mais gosto. Seja onde for e esteja com quem estiver. Aquela mesma realidade veranil passou a ser encarada de outra forma. Talvez seja como as curvas do parque aquático. Elas estão lá sempre, mas é quando escorregamos nelas que podemos ver diferentes perspectivas, ainda que de forma fugaz e muito rápida...

Não resisto a citar o Tolentino:
"É necessário compreender, com humildade, que o problema não é da realidade, mas do modo como lidamos com ela. A questão é a da aprendizagem que o nosso olhar faz ou não faz do real."

sexta-feira, agosto 02, 2013

Abel e Caim e o samba de uma nota só




Este foi o primeiro tema/exercício do retiro de diários gráficos de 2013. Sempre quis pegar no tema de Abel e Caim porque é muito rico para o desenho. Obriga-nos a escolher...

Obrigado Patrícia pelo vídeo tão delicado.

sexta-feira, julho 26, 2013

Exame Nacional de Desenho A





O Exame Nacional de Desenho A tem duas coisas completamente antagónicas:

1 - é completamente previsível
2 - é completamente imprevisível

Passo a explicar: sabe-se o que vai sair, peças em cartolina para montar e fazer um modelo no primeiro grupo. Obras literárias ou gráficas no segundo. Embora não se saiba que peças são e que obras vão ser escolhidas, a verdade é que não há grandes desculpas para ser-se apanhado de surpresa...
O que é verdadeiramente imprevisível é a correção do exame. Os critérios estão definidos, mas a margem de interpretação é enorme. Para uns, uma composição equilibrada é uma coisa e para outros é outra. O domínio da técnica só pode ser avaliado por um professor que a domine também, caso contrário é apenas o julgamento teórico de quem nunca experimentou desenhar com aparo e tinta da china. E se diluirmos a tinta da china com água para termos tonalidades, ela passa a parecer aguarela e pode ser também mal avaliada...
Enfim, as variantes são tantas que cada vez mais me convenço que o verdadeiramente importante é o trabalho feito ao longo do ano letivo. O modo como o pensamento criativo vai sendo consolidado, assim como a segurança do desenho. É tudo uma questão de tempo, mais tarde ou mais cedo tudo se revela e o exame é apenas um passo neste percurso enorme no mundo artístico.

quarta-feira, julho 03, 2013

Retiro de diários gráficos


Esta é uma situação mesmo muito excepcional. Tenho vindo a organizar um retiro de diários gráficos por ano e em 2013, já fiz um... 
Acontece que a Margarida Alvim, que agarrou com todas as forças no projecto da Casa Velha, em Ourém, me desafiou a fazer lá um retiro extra e não fui capaz de recusar.

Vou recuperar temas dos três primeiros retiros e orientá-los para um espaço que respira a raízes e origens portuguesas. A quinta é uma autêntica viagem aos nossos antepassados!

O retiro está pensado para começar ao final da tarde de sexta feira, com o jantar e terminar ao início da tarde, depois do almoço de domingo.

Tal como o nome indica, as condições são as de uma casa de família com casas de banho partilhadas. Há uma camarata feita muito recentemente com colchões para as quais será preciso levar saco-cama.

Dúvidas, inscrições e afins para o meu mail: linhares.mr@gmail.com



domingo, junho 30, 2013

Chef Avillez

- A testa ficou muito alta e os olhos muito juntos - disse-me ele ainda antes de terminar.
E tinha razão. Ando com uma tendência para alongar os rostos...

- Temos de repetir noutro dia - disse-me na despedida.
- Se dessa vez correr bem ofereço-te o desenho - disse-lhe eu...

sábado, junho 29, 2013

Taormina




"Este é o meu filho muito amado, escutai-o"

Assumir que a pessoa ao lado tem mesmo alguma coisa para nos ensinar não é o mais difícil. Todos acreditamos que os outros sabem algo. O que é verdadeiramente incrível de se fazer é deixarmo-nos aprender com essa pessoa. Temos sempre demasiadas resistências, ideias feitas sobre tudo...

Às vezes, quando estamos muito convictos de uma ideia, não há maneira de sabermos ouvir a opinião de outra pessoa. Parece que ninguém nos vai demover. Temos a certeza que estamos certos...
Saber escutar com honestidade a partir da motivação de que o outro também é uma pessoa importante, é um filho muito amado, é o grande acto de sabedoria...

Foi uma tarde muito bonita em Taormina, com a motivação para o desenho a vir daquela frase, mas também de um peregrino que pediu um diamante a um monge e ele deu-lho sem dizer nada. Mais tarde o peregrino voltou e devolveu o diamante ao monge e disse-lhe: "dá-me o que te fez dar-me o diamante"...

sexta-feira, junho 28, 2013

"O último andar é muito longe...

... custa-se muito a chegar
Mas é lá que eu quero morar"

Este poema da Cecília Meireles dá muito que pensar...
Aqui está apenas um excerto e ainda demorei a escolher a parte certa para incluir no desenho.

O último andar, a última tarefa, o último degrau, a parte final de qualquer trabalho é sempre a mais difícil. A mim é a que me custa mais. Quando a maior parte está feita, tenho alguma tendência para abrandar o ritmo. Faz-me lembrar aqueles velocistas que percorrem os 100 e 200 metros que, mesmo ao chegar à meta, parece que abrandam... nunca percebi porque fazem aquilo, mas acho que é exactamente o que eu faço noutros contextos...

Mas a Cecília Meireles tem razão: custa, mas é lá que faz sentido morar. É por isso que não podemos abrandar na recta final...

quarta-feira, junho 26, 2013

mariana martins

No sábado passado, a Mariana foi apresentar, em Castelo Branco, os diários gráficos dela desde os seus 12 anos. Tem agora quinze e muitos desenhos feitos.
A apresentação foi muito elogiada e tenho pena que não lhe tenham dito a ela muitas das coisas que me disseram a mim sobre ela...

Há muito tempo que a queria desenhar com calma, porque ainda não tinha feito nenhum desenho dela que me tivesse deixado satisfeito. No domingo, durante o almoço, com pratos de lado e talheres e copos desviados, desenhámo-nos um ao outro. 
Com risos pelo meio, claro, pois desenhar a olhar de frente uma pessoa que admiramos não é fácil...

Os pais disseram que parece mais velha. Talvez, mas eu fiquei satisfeito com o resultado final.

sexta-feira, junho 21, 2013

exames


A época de exames nacionais deixa-me sempre várias sensações...

A primeira é a mais egoísta: "que perda de tempo eu ter de estar numa sala durante duas horas e meia com tantas outras coisas que tenho para fazer". Estas são mesmo as horas gastas mais parvas dos meus dias...
Depois deixo-me levar pelos rostos dos alunos que estão a fazer o exame. Penso nas horas que eles estudaram antes de chegar ali. Toda aquela concentração em função de um objectivo que pretendem atingir. Todo aquele nervosismo de quem sabe que não pode falhar...

... saber que não se pode falhar é mesmo o grande ensinamento da escola dos últimos séculos. Ninguém  se preocupou em educar-nos para o erro, como lidar com ele, como apreciá-lo e construir a partir dele...

Mas viva o desenho! Valoriza tanto o processo que o erro pode tornar-se o elemento mais importante...

quarta-feira, junho 19, 2013

sábado, junho 15, 2013

Passeio de turma

O dia começou de bicicleta. Bem cedo. De casa ao comboio são 5 min. Apanhei o comboio das 7h08 que levou 32 min. a chegar a Entre Campos. Mais 10 minutos a pedalar e estava no ponto de encontro.

Chegados a Constância, passámos a manhã inteira a fazer canoagem no Zêzere. Ainda pensei levar o caderno para a canoa, mas era demasiado perigoso. Demasiado mesmo, porque a canoa acabou por virar-se e levar-me à água...


Ao almoço, pedi para desenhar um dos meus alunos. Durante todo o processo, acabámos por apanhar um escaldão nas pernas. O desenho é uma actividade lenta, demorada e focada. No meio de tudo até nos esquecemos do resto...
O Artur é um rapaz cheio de talento. Pensa como um engenheiro, gosta de desafios e enigmas para resolver. A informática é a sua área de eleição, especificamente programação.


A seguir ao almoço passeámos pela vila e só houve tempo para desenhar uma parte da praça Alexandre Herculano (que está no desenho acima), pelo que só consegui voltar a desenhar alunos dentro do autocarro. Claro que, com toda a tremideira, tive de optar por fazer desenhos cegos. Foi o possível...

Dos cinco feitos, houve um em que não fui capaz de colocar o nome. Queria que tivesse corrido bem, mas foi mesmo um desastre. Ok, é desenho cego, mas há desenhos que queremos mesmo que corram bem e normalmente são esses que correm mesmo mal...
Hoje, na festa final de ano do colégio, vou tentar redimir-me e desenhar a Mariana em condições!

segunda-feira, junho 10, 2013

workshop: museu de S. Roque


Criaram-se as condições para que acontecesse um workshop em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. São tantas as possibilidades que decidiu-se começar pelo museu e igreja de S. Roque. Se tudo correr bem, este será o primeiro de vários em diferentes locais...

No dia 30, das 10h às 18h, vamos ter a possibilidade de ter uma visita guiada ao museu, desenhar e relacionar algumas das peças mais emblemáticas e entrar em zonas com acesso restrito como o terraço da igreja e os dois torreões que têm uma vista fenomenal sobre Lisboa.

Será um dia em cheio. Parece-me que é a não perder!

Inscrições e esclarecimentos para o meu mail: linhares.mr@gmail.com

segunda-feira, junho 03, 2013

Lisboa: Rua da Conceição


Lisboa é mesmo uma cidade incrível para desenhar. Tem tudo: luz, colinas, cabos eléctricos, quarteirões ortogonais, ruas a subir e a descer e em curva, o castelo, o Tejo, pessoas em movimento, em esplanadas, turistas a olhar para o ar, etc, etc...

Esta Rua da Conceição faz-me sempre viajar para o tempo em que estudava nas Belas-Artes. E que viagem bonita!

domingo, junho 02, 2013

Coleccionar sons

Sons que inspiram uma história...
Os desenhos são do que vemos.
A história é sobre o que ouvimos...

sábado, junho 01, 2013

A máquina certa


Há terrenos que decidimos percorrer que não podem ser pisados de qualquer maneira.
Muitos nos dizem: "não vás por aí que não tens hipóteses" ou "por aí não vai dar nada"...
Ficamos a olhar para os terrenos sem saber o que fazer. Queremos ir por ali, mas parece que não nos deixam. Queremos seguir em frente, mas parece que nos querem convencer que não temos as características certas para o fazer, que é mais seguro ir pela estrada ao lado.

Ontem tive de deitar cá para fora o que me ia na alma. Mostrar que há terrenos que só podem ser feitos de tractor, contra tudo e todos. 
Qual é o problema de estarmos habilitados a conduzir um Ferrari e, ainda assim, escolhermos um tractor? 
Há terrenos que só podem ser lavrados por algumas pessoas, as mais talentosas. Vão ter de lavrar muito, claro, porque a terra é dura no início. Vai dar muito trabalho, mas os frutos não crescem no alcatrão nem nos carreiros de atalhos, nascem na terra boa, aquela que nós cuidamos diariamente e, por isso, a conhecemos. Vamos descobrindo onde semear cada semente, cada coisa no seu lugar, até conseguir tirar da terra as melhores colheitas, aquelas que nenhum outro conseguiria tirar...

Andava com um peso na alma há demasiado tempo...
Ontem fiquei aliviado...
É tão difícil ajudar sem condicionar...
Acho que é mais difícil do que convencer alguém que um tractor é melhor que um Ferrari!