quarta-feira, dezembro 31, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


Eu e a Canon a sermos fotografados pelo olho da Ketta através de uma fisheye...

... quando olho para estas fotografias onde apareço não consigo perceber bem o que sinto...

Neste dia estava preocupado em fazer boas fotografias, mas toda aquela realidade me entusiasmava a viver além da lente. A menina que está perto de mim é a Cadijia (a filha da Sumai) e enquanto andei a fotografar ela andou sempre perto de mim, sempre a acompanhar-me. De repente começou a chover torrencialmente e fiquei com ela debaixo de um guarda-chuva pequeníssimo... só nos ríamos um do outro... ela fartava-se de rir com um sorriso fantástico e lindo de morrer...

Houve um momento em que peguei na enxada e ajudei um pouco a Sumai no trabalho da terra. As enxadas da Guiné são pequenas. O cabo tem uns 50 cm e obriga-nos a curvar as costas praticamente noventa graus.

Ao fundo a Fámata e a Norma estão a tirar as ervas daninhas para que os pés de cajú possam crescer. Também tirei algumas...

Este dia fez-me lembrar os meus avós paternos. Também tinham campos para cultivar e sempre que estava com eles era inevitável falar dos campos e do cultivo. Foram várias as vezes que fui ajudar a plantar milho e a cavar a terra...
... a vida dá mesmo muitas voltas...

... acho que quando me vejo nestas fotografias sinto-me altamente privilegiado por poder ter estado nestes sítios tão remotos... tão bonitos por transbordarem tanta simplicidade...

... sinto saudades...


terça-feira, dezembro 30, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


O homem que está sentado a costurar, e que "levou" um flash amarelo da colorsplash, passava os dias diante da sua máquina de costura DORINA.

Originário da Mauritânia, compra os tecidos em Bissau e costura-os ali em Empada, à porta da sua casa, que fica junto à estrada principal. Faz vestidos, camisas, blusas, lenços e tudo o que as pessoas quiserem e puderem pagar. Aparentemente este negócio permite-lhe sobreviver com alguma qualidade de vida.

Todos os negócios que estão a funcionar em Empada têm como donos pessoas vindas do Senegal, da Mauritânia ou Guiné-Conacri. Porque será?

Pelo que apurámos, os guineenses não têm jeito para o negócio. O nível de estudos é tão baixo que nem conseguem gerir um pequeno negócio de vinhos... as contas relativas ao custo e lucro dos produtos é algo que está ainda por sedimentar...

Enquanto isso, pequenos negócios vão acontecendo, permitindo a existência de uma pequeníssima economia local.

(um dia conto aqui a história do pequeno negócio de vinhos)

sábado, dezembro 27, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


E pronto... passou o dia 25 de Dezembro... festa pagã desde o séc. III e cristã desde o séc. IV...

Começou por ser a festa do "sol invicto" - adorava-se o sol como um deus invencível, já que depois de durante quase todo o mês de Dezembro os dias irem ficando cada vez mais pequenos, prolongando-se a noite e sendo o sol incapaz de combater o frio, as pessoas ficavam com medo que o sol fosse desaparecer...
... a partir de dia 22, com os dias a ficarem maiores, percebia-se que o sol é, afinal, invencível e portanto impunha-se fazer uma festa! Dia 25, depois de se confirmar que os dias estavam de facto a ficar maiores, celebrava-se o nascimento do Sol Invicto...

Para os cristãos, Jesus Cristo é o verdadeiro Sol Invicto, daí que celebrem o seu nascimento nessa data desde o séc. IV.

(Confesso que deixei alguns pormenores da história na "gaveta", mas pronto...)

Pode parecer estranho ter escolhido esta fotografia para falar do dia 25 de Dezembro, mas a verdade é que a escolhi para poder falar dos braços cruzados da rapariga...
... estou, desde dia 25, de braços cruzados! Aproveitei para recarregar baterias neste Natal. Tinha escrito que me queria presente na vida e acho que estive a preparar-me para isso nestes dias. 2008 está a acabar e aproxima-se 2009 que tantos economistas temem. Eu cá gosto dos anos ímpares! Ainda agora descruzei os braços e já estou cheio de ideias e projectos novos para o novo ano!

Não sei o que vos dizem os braços cruzados da rapariga, mas quando tirei esta fotografia, ela estava no mercado a vender peixe seco. Falava com as amigas que estavam ali e riam-se sem parar... assim que apontei a objectiva para ela, olhou-me de frente e fez logo esta pose...


... sei o que significa para mim... que não posso cruzar os braços!


terça-feira, dezembro 23, 2008

Vídeo - rich hospital, poor hospital




Sei que me estou a desviar um pouco dos temas da Guiné, mas pareceu-me importante colocar este vídeo aqui...

domingo, dezembro 21, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Não sei como se chama este rapaz, mas faz-me lembrar o Natal...

No Natal há sempre duas hipóteses: criticar a sociedade por causa do consumismo, ou então não a criticar e entrar na "onda" à mesma...

Este ano vou preparar o meu Natal como se fosse um guineense, ou seja, como se não tivesse dinheiro para gastar com prendas... o que posso oferecer que não posso comprar?

Para mim a resposta é simples... não posso dar prendas... as prendas são efémeras, são tristes de tão fugazes que são, são banais por serem tão pontuais...
Tenho de procurar os presentes e não as prendas. Os presentes encontram-se no presente da minha vida... todos os dias e não apenas em alguns.

Quero presentes e quero-me presente na vida! É assim que desejo o meu Natal.


É isso que vejo nos olhos da criança da fotografia - presença... alguém que me olha de frente e me diz que está presente!


sexta-feira, dezembro 19, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Se soubessem como gosto desta fotografia...

... depois de termos ido à horta da Safi para gravar o trabalho, no dia seguinte, fomos mostrar-lhes as imagens captadas na câmara. O visor era pequenino e as crianças estavam todas de roda da Patrícia. Não havia espaço para mais nenhuma cabeça! A Sumai estava atrás de todas as crianças a espreitar de cima...

Toda a situação me entusiasmava para tirar fotografias... mas lá pelo meio, encontrei esta perspectiva que me encantou... o chão de casa da Safi era esteticamente fantástico! Sei que o efeito se devia ao facto da terra ter sido cobrida com uma camada de cimento muito fina, mas ficava sempre estarrecido quando olhava para ele...

Subi a uma cadeira e fotografei o chão da Safi com a Sumai a aparecer de relance. Assim que fiz o clique, ela olhou para mim e sorriu... acho que percebeu o meu encantamento pelo chão pobre da sua casa... e tinha razão. Estava completamente arrasado com a beleza humana, material e vegetal que me rodeava...


quinta-feira, dezembro 18, 2008

Vídeo: direitos humanos | Video: human rights

Vídeo encomendado a Seth Brau, a propósito da comemoração dos 60 anos da criação da declaração universal dos direitos humanos. Vale a pena ver até ao fim!

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Banda Desenhada - Costa do Marfim

Sei que este post não é sobre a Guiné-Bissau, mas acreditem que não resisti mais em colocar aqui umas palavras em relação a este assunto...

A editora francesa Gallimard criou a coleção Bayou, dando a possibilidade a Marguerite Abouet de escrever uma das bd's mais incríveis que conheço sobre a vida quotidiana africana: AYA.

As cinco primeiras páginas da versão em inglês podem ser consultadas, mas confesso que são apenas uma pequena amostra do que poderão ler e observar no livro inteiro. A história já vai no 4º livro, o que são boas notícias, mas apenas o primeiro e o segundo livros estão traduzidos para inglês (nem sei se alguma editora tem a coragem de lançar a versão portuguesa...)


Recomendo vivamente a leitura da bd. Cada pormenor é delicioso e autêntico.
Por vezes até nos parece um livro cómico, mas é a realidade...


Ps1: um extra!
Ps2: não podia deixar de dedicar este assunto ao Arthur! :)

terça-feira, dezembro 09, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Esta foi talvez uma das pessoas mais idosas que encontrei em Empada. Praticamente não via.
Tirei esta fotografia na primeira semana em que estivémos em Empada, contudo, passadas cerca de duas semanas, ia eu e a Ketta a caminho do liceu para darmos as nossas aulas de Português, quando aparece uma criança a chamar-nos. Dizia que a sua avó nos chamava... intrigados, seguimos a criança...

... quando chegámos estava toda a família à nossa espera. Todos nos cumprimentaram, mas a verdadeira razão de ser que justificava a nossa presença ali, era o facto desta "mulher garandi" querer tocar-nos, conhecer-nos melhor. Perguntou-nos onde íamos. Ficou contente quando soube que estávamos a dar aulas. Passaram 2 ou 3 minutos e logo nos desejou uma boa estadia e boa continuação de trabalho...

Fiquei a perceber duas coisas com esse momento:
1º - o desejo de uma mulher "garandi" é para cumprir, é como uma ordem;
2º - o contacto com as pessoas é sempre simples e bonito.


segunda-feira, dezembro 08, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau

Não sei o que escrever desta fotografia lomográfica. Talvez ande sem inspiração...

...

Um dos dias que mais me marcou em Empada foi um domingo, já não sei qual. Nesse dia, fomos a várias tabancas e passámos a tarde inteira fora. Conhecemos muitas pessoas novas. Vi muitas caras novas. Pessoas que não sabiam os nossos nomes. Quando passava por elas, levantava sempre a mão para dizer "adeus". Quase sempre as pessoas respondiam com o mesmo gesto...

Nesse dia, chegámos a Empada ao anoitecer, mas na rua principal, ainda andavam várias pessoas. Quando passava por elas, cumprimentava-as com o tal gesto, mas a resposta das pessoas já era diferente; a acompanhar o levantar do braço, as pessoas diziam também o meu nome!

Foi nesse dia que percebi que um pedacinho de mim ia ficar ali, naquela terra, com aquelas pessoas.
Foi nesse dia que o Maio me cumprimentou dizendo o meu nome e eu ainda não tinha fixado o dele.

Foi nesse dia que Empada se tornou especial para mim...

sábado, dezembro 06, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Eis o Maio. Enquanto a montagem do vídeo que gravámos com ele em Agosto não fica pronta, deixo este registo fotográfico dele enquanto trabalha. São quatro os trabalhadores que o Centro de Recuperação Nutricional emprega. O Maio, de vermelho na foto, primeiro pesa as crianças e relaciona-o depois com os meses de vida, chegando a um percentil que indica o grau de subnutrição da criança. Ainda faz mais duas tarefas, mas vou deixar que ele as explique no vídeo.

Hoje telefonei para Empada e aproveitei para avisar que já tínhamos 12 pessoas para ajudar a pagar os estudos do primeiro ano de faculdade do Maio.

Como tinha escrito, basta que cada pessoa consiga juntar trinta euros até Julho de 2009, para que as pessoas que vão a Empada em Agosto possam levar directamente o dinheiro. O modo como devemos contribuir é através da adGENTES. Poderão fazer uma transferência interbancária, enviar um cheque por correio, ou, para quem me conhece pessoalmente, entregar-me o dinheiro em mão. A adGENTES poderá passar um recibo de donativo, dedutível no IRS para quem quiser (deste modo poderão ter sempre uma prova em como contribuíram para este projecto).

Deixo aqui o NIB da adGENTES e a morada:

NIB: 001000004097013000137

(quando fizerem a transferência, deverá aparecer o seguinte nome: adGENTES Associação Leigos Missionários da Consolata)

Morada:
adGENTES - Associação Leigos Missionários da Consolata
Av. Cidade de Lisboa - Quinta do Castelo
2735-206 Cacém


Quem fizer a transferência interbancária e quiser o recibo, agradeço que me envie um email com a morada para onde devemos enviar o recibo.

Qualquer dúvida é só mandar-me um mail ou deixar aqui um comentário.

...

... o mundo transforma-se assim... aos poucos e com pessoas preocupadas e activas!

Obrigado!


quinta-feira, dezembro 04, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Segunda é o nome desta rapariga, que tece uma rede, tendo como suporte o dedo grande do pé. A Segunda é a melhor amiga da Helena. Tinha um ar sempre muito concentrado e adulto. Falei poucas vezes com ela, mas tinha um sorriso bonito e discreto.

A primeira vez que fomos conhecer a casa da Helena, fiquei logo fascinado com o que a Segunda estava a fazer. Fotografei-a várias vezes, de vários ângulos... talvez ela já estivesse cansada, mas nem por isso se queixou, ou me fez sinal de que não queria ser fotografada.

De toda a agitação que se passava ali (crianças a brincar, a jogar à macaca e à sirumba, as raparigas a pentearem-se, os homens sentados a falar, etc.), este foi, para mim, o momento mais bonito. Além da Segunda ser a pessoa mais tranquila, estava no enquadramento certo...


terça-feira, dezembro 02, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


Hoje, a lista de 12 pessoas necessárias para que o Maio possa estudar em Bissau, durante um ano, completou-se! Assim que a 12º pessoa se inscreveu, tive vontade de telefonar para Empada, para avisarem o Maio de que vai poder estudar no próximo ano lectivo! Acho que vai ficar radiante!

Tenho previsto publicar aqui um vídeo que gravámos com ele a explicar o trabalho que faz e as motivações para estudar em Bissau. Por agora ficam apenas estes chinelos... sinal de caminho para mim... sinal do caminho que o Maio tem de fazer, mas também sinal do caminho que nós os doze escolhemos e que se cruza com o do Maio!

Estou muito feliz!
:)

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau



Foi neste Toyota que passámos pelos buracos mais incríveis da estrada Bissau-Empada. Uma das experiências mais incríveis era atravessar os largos buracos cheios de água... quando os via ao longe, nem queria acreditar que íamos passar mesmo pelo meio... intuitivamente pensava que o melhor seria contornar os buracos, indo pela berma. Mas não! A berma era muito mais perigosa, pois se não tinha água, era porque a terra a absorvia e, portanto, os pneus iriam enterrar-se. O fundo da zona com água teria de ser duro, argiloso, mais impermeável e, portanto, mais seguro para o carro passar.

As coisas que se aprendem na Guiné...

sexta-feira, novembro 28, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


Não é fácil comentar esta fotografia...
... não sei se porque tem um círculo que me faz lembrar o mundo onde alguém está a partilhar o que tem, sendo essa uma situação contrastante com o que acontece na realidade, ou se porque me faz lembrar que quem partilha é sempre quem tem pouco para dar.

Quem tem muito não quer dar o que tem... talvez porque o que tem seja demasiado valioso...
Quem tem pouco não se importa de partilhar o que tem... será que isso quer dizer que o que tem, não tem valor?

Vi esta semana um documentário sobre Imigração ilegal - Bab Sebta. O documentário ganhou o último DocLisboa.

Uma das frases que memorizei foi a de um africano [não me lembro se era do Mali ou de outro país]:
"(...) os africanos tentam entrar na Europa à procura de melhores condições de vida, à procura de dinheiro. Vocês, europeus, vêm a África, não à procura de dinheiro nem de melhores condições de vida. Vêm à procura de conhecimento."

Outro disse outra coisa extraordinária:
"No séc. XV, os europeus vieram pelo mar até África. Nós agora, queremos ir pelo mar até à Europa e não nos deixam."

...

Voltando à imagem de cima, só consigo pensar numa coisa: nós continuamos a ir a África buscar coisas, neste caso, conhecimento, sabedoria. Em troca, as pessoas dão-nos o que têm... seja muito , seja pouco...


... estou certo que já recebi muito mais do que dei...




quarta-feira, novembro 26, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau


As grades são as mesmas da lomo anterior. Em tempos estas grades foram de cimento... o desenho era o mesmo, mas com o tempo foram ruindo até que caíram. A necessidade falou mais alto e umas grades de ferro foram ali colocadas.

O Centro de Recuperação Nutricional fica mais "leve" visualmente e, assim, são várias as crianças que por ali andam a ver os bebés a serem pesados e alimentados.

Não sei quem é a rapariga que ficou registada, mas conheço bem as grades que a separam de mim... essas grades são difíceis de derrubar, embora sejam maiores os espaços vazios que me permitem trespassá-las...

Esta lomo retrata bem o que se passa no nosso mundo:
Nós do lado de cá, com todos os meios para fazer alguma coisa. Eles do lado de lá, mas com a vontade de dar o primeiro passo, esticando as mãos para fazer algo, nem que seja o agarrarem-se à fronteira que nos separa...


sábado, novembro 22, 2008

Lomografia: Guiné-Bissau | Lomography: Guinea-Bissau



Estreio hoje o blog com fotografias lomográficas da Guiné-Bissau. O rapaz sentado chama-se Maio e trabalha no Centro de Recuperação Nutricional de Empada.

Comprometi-me com ele a tentar arranjar alguém que o ajudasse a estudar... o que ganha ali não chega para tirar um curso superior de Enfermagem ou Medicina na capital, Bissau.

O Maio foi o melhor aluno das aulas de Português que eu e a Ketta demos lá em Empada.

Para conseguir estudar em Bissau, ele precisa de cerca de 30 euros por mês.

Vou começar, a partir de Dezembro, a colocar um euro de parte por semana para angariar o valor necessário. Se conseguirmos angariar o suficiente, as pessoas que forem a Empada no próximo Agosto poderão levar o dinheiro necessário para o Maio poder estudar e vir a ser um enfermeiro, ou até quem sabe, um médico.

Quem quiser juntar-se a mim é só deixar um comentário ou enviar-me um mail...

Só precisamos de 12 pessoas para este micro-projecto. Aqui fica a lista:

01 - Mário Linhares (22.nov.2008)
02 - Lavínia Leal (24.nov.2008)
03 - Maria Cabral (24.nov.2008)
04 - Cristiana (24.nov.2008)
05 - Luís Giestas (25.nov.2008)
06 - Paula Xavier (25.nov.2008)
07 - Patrícia Pedrosa (26.nov.2008)
08 - Mafalda Cavalheiro (27.nov.2008)
09 - Marisa Marcelino (29.nov.2008)
10 - Joana Nascimento (01.dez.2008)
11 - Marta Teives (02.dez.2008)
12 - Martha Xavier (02.dez.2008)


Vídeo: Guiné-Bissau | Video: Guinea-Bissau



A 31 de Julho, quase no final do dia, gravámos o webdiário com as irmãs missionárias da Consolata.


sexta-feira, novembro 21, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


"Venham rápido ver as crianças a subir à palmeira" - dizia a Ir.ª Franca a mim e à Patrícia que estávamos no Centro Nutricional.

Estava uma palmeira com um "cacho" de bagos de óleo de palma pronto a ser colhido. Uma criança de 10 ou 11 anos começou a subir. Colocou uma fita (feita das folhas da palmeira) à volta da cintura e passou-a por detrás da palmeira. Aos poucos lá ia subindo... numa das mãos levava uma catana para conseguir cortar o cacho...
... chegado lá acima esforçou-se ao máximo para cortar as folhas à volta e assim chegar ao cacho. Esgotadas as forças após alguns golpes infrutíferos, decidiu descer...

Pensei para mim: "gostava de o ver a arrancar o cacho... que pena"

Passados uns minutos chegou o irmão mais velho. Talvez tivesse 17 ou 18 anos. Subiu de forma mais ágil e, com mais habilidade, conseguiu separar o cacho da palmeira! Pegou nele e atirou-o cá para baixo! Mal caiu, as crianças começaram a tirar pequenos bagos e a colocá-los na boca. Uma delas virou-se para mim e ofereceu-me um...
... não resisti à tentação de provar um bago de óleo de palma acabadinho de colher da palmeira. Não fazia a mínima ideia do gosto que ia provar, se tinha caroço ou não, se ia gostar...

Sem pensar muito coloquei o bago na boca. A minha primeira sensação foi:
"que caroço tão grande"!
Na realidade a parte que se aproveita deve ter uns 2 ou 3 milímetros de espessura.

Os meus dedos ficaram vermelhos só de pegar no bago...
O sabor não é mau, mas é muito oleoso...
A parte comestível é muito fibrosa... fica nos dentes...

As crianças riram-se mais uma vez de mim, mas fiquei orgulhoso por ter comido do mesmo cacho que eles...


quinta-feira, novembro 20, 2008

quarta-feira, novembro 19, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


A Arte respira-se em todo o lado... e os artistas precisam desses lados todos, desses pequenos detalhes, fragmentos, nadas...

Passear pelos caminhos de Empada leva-nos a reparar nesses detalhes, nas novidades visuais...
Já aqui escrevi que as paredes das casas são belas...


Quando olho para esta fotografia nunca sei bem o que escrever... gosto da fotografia, do enquadramento, da rapariga que posa propositadamente para mim, mas não sei... fico sempre sem palavras...

terça-feira, novembro 18, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau



Nesta terra castanha pousam-se colchões de espessura tão fina que nem percebo como ainda resistem...
Este é o quarto dos filhos mais novos da Safi. No colchão branco dorme o Idrissa, único rapaz da família que deve ter 13 ou 14 anos. No colchão que tem uma manta aos quadrados brancos e vermelhos, dormem a Cadijia, a Franca e a Aissato.

Quando no documentário surge a Aissato no Hospital porque um bicho branco lhe tinha entrado no dedo, toda essa situação parece tão irreal que não se percebe como pode acontecer. Ao ver esta imagem talvez se perceba melhor como três crianças a dormirem juntas no mesmo colchão (que está no chão) ficam sempre sujeitas a situações dessas ou piores...

O mais surpreendente no meio de tudo isto é a alegria das crianças quando estão connosco. A forma como se riem para nós, como parece que tudo aquilo que têm é suficiente...

Uma das memórias visuais mais bonitas que tenho de Empada é a alegria das crianças quando nos viam a aproximar da casa delas... parece incrível, mas a nossa presença ali bastava para transformar alguma coisa. Não era precisa nada de especial, apenas o nosso tempo dedicado a elas...

Não é o tempo o ouro do futuro?



segunda-feira, novembro 17, 2008

Fotografia: Guiné-Bissau | Photography: Guinea-Bissau


Acho que esta é uma das fotografias, das que tirei na Guiné, que gosto mais. Foi tirada no dia 28 de Julho de 2008 e tinha chegado à Guiné no dia anterior. Depois de uma noite cheia de humidade e calor, tomámos o pequeno almoço e saímos para Empada por volta das 9 da manhã.

Depois de muitos quilómetros de viagem chegámos a uma terra chamada Bambadinca onde há sempre muito comércio. Parámos para comprar batata doce (em Empada não há) e algumas mangas. Assim que o carro parou, as nossas janelas foram preenchidas por crianças a vender mangas, caju, batata doce, milho assado, bananas (tenho-me esquecido de fazer referência às bananas, que existem com alguma abundância por ali) e de repente, todo aquele cenário se transformou em algo inédito que me levou a tirar a máquina fotográfica. Várias crianças apareceram a rir, mas esta ficou assim... com aquele olhar sério...

... por momentos senti-me estranho... como se estivesse a invadir a privacidade dela... como se não tivesse o direito de lhe tirar esta fotografia...
... tinha vontade de comprar caju e mangas, mas ainda nem tinha francos no bolso... só uns euros em moedas. Nada feito. O jipe arrancou sem que eu tivesse comprado nada, mas logo a Ir.ª Anistalda nos mostrou as bananas que tinha comprado "lá fora" para enganar o estômago...

... arrancámos... mas aquele olhar ficou...