segunda-feira, junho 27, 2016

Casa de Balide, Timor-Leste


Foi nesta casa de Balide que a Ketta nasceu e viveu até aos 4 anos. Foi também ali que os pais viveram até virem todos para Portugal em 1986. Foi por aquela porta que entrei pela primeira vez numa casa timorense. Estávamos em 2009 e tinham passado apenas 10 anos do referendo que deu lhes a independência da Indonésia. Lembro-me muito bem dessa primeira refeição. Comi apenas arroz e legumes. A carne era demasiado dura e à noite adormeci com fome...

Seis anos depois:
Balide, 30 de agosto de 2015
Em 2009 desenhei esta sala da casa de Balide. As horas demoravam a passar e havia tempo para descansar verdadeiramente, ler, desenhar, pensar e reflectir. Agora, em 2015, queria desenhar de novo esta sala para perceber se continuava tudo igual...

Mas não continuava. As crianças que enchiam a casa já não estavam lá. Apenas o bebé recém nascido era agora uma criança. As outras estavam todas na universidade, umas na Indonésia, outras em Timor. A mais nova, Mazi, estava agora a terminar o secundário e com planos de vir para Lisboa. Encorajei-a a dar o litro, a falar mais português e a lutar pelos seus sonhos!

É atribuída a Heráclito de Éfeso a frase: 
A mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte.
Não sei se é mesmo dele ou se é mito urbano, mas parece-me muito mais interessante esta outra que é mesmo dele: 
Não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós também já somos outros.

Quando penso nos filósofos gregos, lembro-me do tempo disponível que tinham para aprofundar os seus pensamentos. Que luxo! Tempo é sempre o que nos falta...
Fui à procura do meu post de 2009 sobre o desenho que fiz e descobri que reflecti exactamente sobre o tempo... 
Há viagens que nos transformam profundamente. Ir a África em 2002 foi um delas. Ir a Timor em 2009 também. Voltar lá em 2015 foi como querer entrar no mesmo rio, mas Heráclito tinha razão...

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